Só mulher tem Transtorno Bipolar e Borderline?
- jobssaudemental
- 14 de abr.
- 3 min de leitura
Você já ouviu alguém dizer que "transtorno bipolar" ou "borderline é coisa de mulher"? Essa ideia está mais presente do que parece — e apesar de estar equivocada, ela reflete um fenômeno complexo: o viés de gênero nos diagnósticos em saúde mental.
O transtorno afetivo bipolar (TAB), por exemplo, afeta homens e mulheres em proporções semelhantes, segundo dados do National Institute of Mental Health (NIMH). O que muda, na verdade, são os padrões de manifestação dos sintomas. Homens tendem a apresentar mais episódios maníacos e comportamentos impulsivos, enquanto mulheres demonstram mais episódios depressivos, maior ciclagem de humor (ou seja, mudanças mais frequentes entre mania e depressão) e têm maior propensão a comorbidades como ansiedade e transtornos alimentares. Isso, por si só, já interfere no tempo e no tipo de diagnóstico recebido.
Já no caso do transtorno de personalidade borderline (TPB), os dados mostram que aproximadamente 75% dos diagnósticos são feitos em mulheres (DSM-5). Isso gerou a crença de que o TPB seria quase exclusivo do público feminino — o que não corresponde à realidade clínica. Homens também sofrem com o transtorno, mas seus sintomas tendem a ser externalizados de forma diferente: mais impulsividade, irritabilidade, agressividade, envolvimento com substâncias e comportamento de risco. Essas expressões, muitas vezes, são mal interpretadas ou direcionadas para outros diagnósticos, como o transtorno de personalidade antissocial ou transtorno explosivo intermitente.
Essas distorções revelam o quanto o viés de gênero está culturalmente enraizado na forma como avaliamos sofrimento psíquico. Desde cedo, aprendemos — de forma explícita ou implícita — que mulheres são mais emotivas, frágeis ou “descontroladas”, enquanto homens são mais racionais e menos propensos a expressar vulnerabilidade emocional. Esses estereótipos não apenas influenciam o comportamento de quem sofre, mas também afetam a forma como os profissionais da saúde interpretam os sintomas que veem no consultório.
O resultado disso é preocupante: diagnósticos imprecisos, tratamentos inadequados, estigmatização de determinados transtornos e a invisibilização do sofrimento de muitos homens, que acabam não sendo acolhidos de forma adequada — ou sequer procuram ajuda por medo de parecerem “fracos”.
Além disso, a hipervalorização de certos sintomas em mulheres (como a instabilidade emocional ou a sensibilidade) pode fazer com que a queixa delas seja descredibilizada, rotulada como “exagero” ou “drama”, o que também compromete o acesso a um cuidado qualificado e empático.
Portanto, discutir o viés de gênero nos diagnósticos em saúde mental é muito mais do que revisar dados — é uma forma de garantir que o sofrimento psíquico seja reconhecido com mais justiça, sensibilidade e precisão. É entender que a saúde mental precisa ser construída com base em evidências clínicas, e não em estereótipos sociais. Homens e mulheres — e todas as identidades de gênero — têm o direito de serem escutados, diagnosticados e tratados com respeito às suas vivências e particularidades.
Falar sobre isso é uma forma de quebrar tabus, ampliar o acesso ao cuidado e promover uma psicologia verdadeiramente inclusiva e responsável.
📚 Fontes:
National Institute of Mental Health – Bipolar Disorder
American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – 5ª edição (DSM-5)
Paris, J. (2010). Treatment of Borderline Personality Disorder: A Guide to Evidence-Based Practice
Skodol, A. E., & Bender, D. S. (2003). Why are women diagnosed borderline more than men?






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